30 de junho de 2019

Maternidade.

Meu filho tem 4 anos e eu escrevo cartas para ele, em algum futuro, ler. Hoje eu escrevi essa, e resolvi postar no blog para pedir conselhos.

"Eram aproximadamente 16:45 quando eu decidi sair com você para jogar bola em um lugar gramado aqui perto de casa. Foi uma tarde bem divertida! Corremos, brincamos, ficamos no parquinho. Você me ajudou a recolher um lixo que uma galera mal educada, que vive bebendo nessa praça, deixou da última vez.
Deixei você fazer um gol com as mãos (a gente usa a grade de referência, não precisa ter trave. Tendo o fundo, já é gol, então a gente faz bastante!). Te ensinei a escalar a grade do parquinho para que você não precisasse dar a volta só para passar pra dentro ou para fora pela porta. Você fez sozinho mais algumas vezes, e influenciou um menino da sua idade, até o pai dele brigar. Não entendo esses pais. Eles não dão coragem pros filhos. Ou eu posso estar errada.
Mas a sua coragem é tão incrível! Você bateu a cabeça em um brinquedo, me procurou assustado só para ver se eu estava prestando atenção, e eu perguntei se você tinha machucado. Você gritou tão alto "ainda não, mamãe!!!" que uma moça que estava do outro lado do parquinho riu sem parar.
Achei incrível, como é, toda vez que eu entro nesse teu mundo mágico e coloco a imaginação pra ser criança de novo. E sempre nesse "ainda não" você vai me levando.
Só que hoje você foi um pouco longe demais com o seu ainda não. À medida que o sol foi baixando e a noite começando a esfriar, eu comecei a te preparar para ir embora sutilmente. Então eu comecei a te chamar. E você começou a fingir que não me escutava. Então eu te chamei 8 vezes seguidas, explicando entre elas a necessidade de irmos embora, pois estava ficando frio e já estávamos resfriados o suficiente...
Teve uma hora que eu tive que sair do modo amiga e passar para o modo mãe autoritária que eu odeio ser. Isso não é um relacionamento abusivo. Mas eu me pergunto se eu tenho ido longe demais nessa minha busca por paciência para lidar com qualquer tipo de adversidade que venha de você e tentar conciliar que, como indivíduo, você tem livre escolha, mas sendo uma criança, ainda precisa de ajuda para tomar decisões, como não ficar até mais tarde no parquinho pois está frio e pode ficar doente.
Mas você não curte muito esse meu lado autoritário. Você continua fazendo e teimando, e eu começo a me desesperar internamente pois sei que estou perdendo essa autoridade aos poucos. E ultimamente você tem tentado desmentir quando eu digo o que eu sinto. Quando eu digo "eu estou ficando triste com isso e chateada com você", você fala que não estou, que não é verdade, como se eu tivesse que aceitar tudo o que você faz. Respiro fundo. Lembro que você só tem 4 anos e que talvez eu quem esteja racionalizando demais. Mas você continua apertando esse acelerador da rebeldia e pronto, tudo que construí até aqui... não sei mais levar a partir daqui. Te arrastei para dentro de casa, calada, me sentindo extremamente frustrada. Estava tudo tão maravilhoso! Em que momento ficou assim? Meu filho está crescendo e qual o limite de autoridade vs o de auto suficiência nessa fase? Que fase!
Sentei no topo da escada, e você sentou no chão, lá em baixo. Eu continuei a te chamar, para irmos tomar banho e tirar toda a terra do parquinho. Você continuou a tentar me convencer que eu poderia ver a situação com os seus olhos, do seu jeito, e eu juro filho, eu estava realmente tentando! Até que não consegui mais, e entrei no meu modo mais imbecil de frustração: a raiva. Te trouxe à força para o banheiro e tentei tirar a sua roupa sem sucesso. Era como se mais alto você gritasse mais a minha frustração ia sendo transformada em raiva até que tirei o chinelo do pé e te ameacei. Nessas horas eu penso se eu poderia estar evitando tudo isso. Respirei. Sentei no vaso fechado, olhei nos seus olhos e tentei mais uma vez te tomar de diálogo. E mais uma vez foi em vão. Cansada, depois de nomear todos os castigos que eu te daria em forma de privação, eu resolvi dar um tempo para mim.
Você veio para o quarto, eu peguei minha toalha e fui tomar o meu banho. Pedi por favor para que nem sua avó nem o seu avó fossem falar com você, para que você pensasse nesse nosso momento, e então com mais calma pudéssemos conversar até você entender sem precisar de violência. Mas assim que entrei no chuveiro ouvi seus gritos e, para ser sincera, eu não sei se sua avó te bateu ou apenas tirou a sua roupa de forma mais bruta. Eu saí chateada com ela pois a única coisa que eu havia pedido era que ninguém fosse mexer contigo. E começamos a discutir, eu e ela. E agora eu to me sentindo péssima e frustrada pois não consigo nem tentar levar do meu jeito com você, ao mesmo tempo que eu sempre acho que eu to fazendo tudo errado. Eu realmente acho que bater não é o caminho. Me machuca quando eu te encosto o dedo para te machucar. Não acho que a gente tenha que se machucar para depois não ser machucado, como dizem que a gente "apanha em casa, para não apanhar na rua". Até por que todo mundo se machuca uma hora. Temos que estar preparados e saber se curar daquilo.
 
Eu não sei o que fazer. Desculpa."

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